escarafunchando no baú...

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Essência e aparência na catástrofe


Maria Teresa Horta (MTH)
Os últimos dias políticos têm sido inacreditáveis. Um governo de amadores que não se governa nem a ele mesmo. Uma coligação que está a quebrar porque o partido mais pequeno acha que é maior do que é realmente e que consegue estar a governar e a opor-se ao mesmo tempo. Com o ministro de Estado, líder desse partido, que quer ter mais papel mas que anda a correr Mundo não se sabe bem para quê, sendo que quase nunca cá pára. Tudo isto é inacreditável, na fase em que o País não parece ter rumo nem esperança. Mas há ainda assim outras coisas que me deixam perplexo.

Quem lê o jornal Público tira uma ideia do que é o cartório anti-governo. Não se percebe de onde vem este ódio, desde a nascença. Talvez pelo governo não ser de “esquerda”. Mas o anterior que lá esteve era pouco mais de "esquerda" e nunca fizeram tamanha celeuma ao jornal.
Na edição de ontem (19-9), a páginas tantas, na 15ª reportagem a criticar ou a intermediar a crítica de alguém contra o governo, vem notícia: "Nem prémio leva Maria Teresa Horta a dar mão a Passos". Ao lê-la, caí para o lado.
Segue: a escritora foi galardoada pelo júri do prémio literário D. Dinis pelo romance As Luzes de Leonor Diz que lhe honra muito receber o prémio mas nunca das mãos do primeiro-ministro, «pessoa que está empenhada em destruir o nosso país». Cancelou a cerimónia de entrega. Ora, isto para além de se configurar como falta de educação e nível é ainda uma palhaçada por parte da escritora, por um par de razões.

A sra. afirma que sempre foi uma mulher de "esquerda" e que lutou pelas "causas de Abril". Para mim, quando gente começa com tal conversa, nem vale a pena ler/ouvir mais. Porquê? Porque estigmatizam os outros como de "esquerda" ou de "direita", independentemente do mérito potencial da sua acção ou personalidade. Porque apresentam um cartão-de-visita, "ser de esquerda", relegando os outros a um patamar de legitimidade inferior, deslegitimando-os de qualquer opinião contrária ou estatuto que mereça respeito aos primeiros. Porque se sabe de onde vêm tais frases: cartilha do Partido Comunista ou proto-comunista, sendo então que a probabilidade de não ter feito aquilo que diz ter feito (pela "liberdade", "democracia", "Abril", galinha da vizinha e outra balela qualquer) é enorme.

Tal atitude apresenta-se ironicamente como uma incoerência (ao contrário das palavras de MTH que repete esse vocábulo um sem-número de vezes na entrevista). O criminoso-ministro que lá esteve antes dizia-se de "esquerda" também, mas foi-se a ver quase tão de "direita" como o arara que lá está agora.
Aquele sim estava apostado em destruir o País e fá-lo-ia para se manter no poder, se os cidadãos continuassem opiados pela capacidade retórica do distinto fulano "esquerdista". Ele sim destruiria o País, entregando-o às empresas de obras-públicas como a Mota Engil do camarada Jorge Coelho e canalha semelhante como o "dr." Paulo Campos. Esse sim era criminoso, tendo sido indiciado por uma série de crimes gravíssimos que não levaram a condenação porque este País se chama Portugal: ordens maçónico-mafiosas ambulantes. Mas na altura em que ele lá estava, quando mais se precisava (até para se evitar chegarmos onde estamos agora e que até Passos Coelho fosse para o governo fazer os disparates que está a fazer), ninguém apareceu tão indignado deste jeito. Tudo "baixou a cueca" de subserviência e cobardia, desde o Presidente da República a simples escritoras de "esquerda" como MTH passando por jornais como o Público.
A Passos pode-se acusar a impreparação para o cargo, a burrice até, ingenuidade em alguns casos, mas nunca a falta de seriedade, boa intenção ou um instinto criminoso. Passos usou da mentira para ser primeiro-ministro como todos os anteriores fizeram, ou talvez pensou mesmo que as coisas da governação seriam mais mecânicas e fáceis do que são realmente. Mas Passos não quer destruir o País. O problema é que está seriamente convicto de que Portugal se desenvolverá com a cartilha da troika porque tem a seu lado Gaspar, que pensa por Passos e que governa o País por ele mesmo ao melhor estilo da escola de Chicago, lavando o cérebro de Passos todos os dias.
E até mesmo em percentagem de gente canalha no governo, o anterior vai léguas à frente do actual. Ninguém percebe o que faz ainda Relvas no governo de hoje, estando a sua presença seriamente a danificar qualquer imagem possível de boa vontade e credibilidade do Executivo, mas ele sozinho não faz o governo todo e o facto de Relvas ser perigoso não significa que os outros o sejam.

Sempre nos habituámos a perceber que a “esquerda” goza de maior tolerância da “direita”. Muito maior mesmo.
A questão coloca-se na equidade embora: quando os de “esquerda” afirmando-se como tal mas agindo como de “direita”, asneiam com más intenções, iludindo deliberadamente tudo e todos, continuam a merecer benevolência; quando os de “direita”, não escondendo que o são, agem na sua estreita convicção de estarem a ir no rumo certo (mesmo que não estejam) recebem pedregulhos e ofensas vindos de tudo o que é canto, como se estivessem a fazer o que fizeram os primeiros.
Queria dizer: não brinquem! A situação de Portugal é gravíssima e este governo, mal ou bem, tem de aguentar pelo menos até 2015. Tenham juízo e sejam verdadeiramente coerentes. Não venham arrotar barbaridades etiquetando as pessoas. Olhem à essência e não à aparência! Tenho dito.

sábado, 8 de setembro de 2012

Bloco democrático e popular


Bloco de Esquerda é um partido ingovernável, uma amálgama de facções até intolerantes entre si. É por isso um partido estagnado, de estagnação, exilado no abrigo da contestação, da negação, da exaltação, da revolução anárquica se for caro disso. A sua instabilidade percebe-se em alturas de “cava” no seu prestígio, como as de hoje, e então saltam todas as suas dúvidas existenciais.
O Bloco só foi possível graças aos seus fundadores, ainda que vindos das diversas facções internas entendiam-se bem. Só alguém tão inteligente como sofista como Francisco Louçã poderia liderar uma manta destas. Mas o seu tempo, como em tudo, acabou.
Na sombra

Os partidos das extremas politicas não convivem nada bem com conflitos nas suas “quintas”, democracia interna dizendo de outra maneira. Embora, como já tenha escrito, os seus seguidores (mormente os de Esquerda) sejam os que mais pregam ao exercício democrático dos outros (pessoas e colectividades).
Essa é uma característica idiossincrática, que se manifesta em alturas-chave: as sucessões internas.
No Partido Comunista o “novo” líder é eleito por meia dúzia de “camaradas”, camaradas do antigo líder claro, num círculo fechadíssimo, propício a reeleições sem-fim. Ao melhor estilo de Havana.
No Bloco de Esquerda o caso “muda” de figura. O líder do partido tem até outra designação para dar a ideia que não manda coisa nenhuma. E parece que findo um decadente ciclo político de quase década e meia, o “Coordenador” decide quem lhe sucede, numa lógica dinástica ao melhor estilo de Pyongyang. E no caso de Louçã a imaginação nem tem limites. Escolheu não um mas dois príncipes para o substituir, um e uma pois claro, pela “política do século XXI”. Uma solução para durar pouco, para enfraquecer a nova geração só pode, para eternizar o poder que a velha não quer perder na sua prole.
É assim que se pratica democracia “digna” nas “Esquerdas” “democráticas” de hoje.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Caminhos de extinção

A coisa está séria! O Sporting ou muda depressa (em 1-2 anos) ou vai falir.
O leão que reina no pátio da decadência
Neste momento o passivo da SAD vai para lá dos 270M€. O clube há 11 anos que não ganha um campeonato e desde a última vez que ganhou uma taça, já lá vão 5 anos. Para além disso, desde Nani que o clube não vende significativamente, algo impreterível para garantir solidez financeira. Aliás, os últimos jogadores da equipa vendidos foram-no a preço “chinês”: Miguel Veloso e João Moutinho já tinham sido há poucos anos péssimos exemplos (bem como toda a gestão de Bettencourt). Mas os últimos casos não têm sido muito melhores: Valdês (dos poucos da desgraça de Paulo Sérgio) foi oferecido ao Parma para que Bojinov viesse (uma promessa adiada que se transformou num problema disciplinar), Evaldo foi comprado por 3M€ e vai andar a "rodar" até expirar o contrato, Matias Fernandez foi também vendido sem retorno (descontando salários, inflação e taxas de juro até deu prejuízo), Pongolle custou 6,5M€ em enganos e talvez aldrabices e rescindiu recentemente o seu contrato.
Mas o pior dos casos é o de João Pereira: vendido antes dum Europeu onde jogou sempre a titular, em que todos os jogadores da Selecção se valorizaram. O caso dele já à partida era estranho: não é normal os jogadores de hoje (principalmente os mais importantes) terem cláusulas de rescisão tao baixas (7M€). Mesmo considerando que João Pereira pudesse ser vendido a este preço, já seria um mau negócio tendo em conta a sua titularidade no clube e Selecção e a época tinha feito tanto num como noutra (com o Sporting chegou às meias-finais da Liga Europa, sendo considerado dos melhores; com a Selecção Portuguesa chegou às “meias” do Euro'12, onde mostrou-se sempre titular e regular). A questão agravou-se, não só porque foi vendido por quase menos do que o clube tinha pago por ele há ano e meio (3,7M€ – somem-se para mais as outras componentes financeiras e...), como esse negócio foi feito com um clube também ele semi-insolvente e antes dum Europeu com as indicações já descritas.

Portanto, o futuro do Sporting é preocupante. O clube não sucede desportivamente, tem uma situação financeira muito débil (extremamente dependente do apoio bancário) e económica ainda pior (os seus activos desvalorizam-se consecutivamente). O clube precisa de “descer à Terra”, deixar de comprar como um abastado e vender como um mendigo. Precisa de adoptar a politica que tem levado o Sp. Braga a um tremendo sucesso: contratar jogadores com provas no nosso campeonato em fim de contrato e vendê-los por milhões, sempre com orçamentos baixos (à roda dos 10-15M€). Para além disso, o SCP goza da vantagem única de dispor da melhor academia de talentos do Mundo que tem obrigatoriamente de ser rentabilizada.
Se o Sporting não fizer nada disto, arrisca-se a que daqui a pouco não se fale mais dele...

Novela de país

Nota prévia: depois de um período de jejum para recarregar e renovar “amores”, “ódios” e assuntos, O Jusdiceiro volta, esperando que para ficar e durar.

Programação de "serviço público", de facto
O inacreditável da história Borges-Relvas-Passos-administração da RTP é a desnexo de toda ela. O seu maior contra-senso é que quem tinha mais condições para passar a “batata quente” foi quem mais desbocou: António Borges. Não sei se o fez por livre convicção ou a mando de alguém (o mais provável, a meu ver), mas o assustador é que ele parece saber e decidir mais do que quem está no Governo. O senhor, que falou mais numa hora do que muitos ministros num ano, lançou o barro à parede. Caiu mal. Pelo menos "queimou-se" um "consultor" e não um ministro (oficial).

A questão da propriedade pública de canais de TV coloca-se essencialmente a dois níveis. O primeiro, a utilidade que eles trazem à sociedade, a famosa cantilena do "serviço público". Quanto a isto, não é preciso um grande esforço para perceber que os programas do Malato, do gordo Mendes ou as palhaçadas do Baião não interessam nem ao diabo. O mesmo se aplicando às novelas brasileiras e às imensas horas dedicadas ao futebol, ao comentário do futebol e ao comentário do comentário do futebol. Está tudo lá para "encher", atraindo populaça. Concorrem apenas com o lixo da SIC e TVI. É esta a função da RTP? Não!
Em contrapartida, a programação mais rica é a mais ignorada delas: fascículos histórico-culturais, mostra do Portugal "remoto", das tradições locais, da gastronomia, das minorias étnicas, dos imigrantes cá e emigrantes lá, debates religiosos, parlamentares etc. são deitados fora por "não serem rentáveis". Ora, a RTP2 desempenha toda esta função mas é posta de lado como se de nada valesse. E até a RTPInformação desempenha melhor na função de informar do que o canal 1.
É portanto sobre isto que deveria cair o debate. Se me perguntarem o interesse que tem a RTP1, eu respondo tirando o “Telejornal” e o “Prós e Contras” de nada ela me vale. Se me perguntarem o valor (não financeiro) da RTP2, eu respondo muito. Se me perguntarem se a RTPInf deve continuar, eu respondo obviamente. Do canal Internacional não sobram grandes debates da sua importância para os emigrantes. Que se junte ao canal África então.
O segundo patamar de discussão para este tema deveria ser a influência governativa na Televisão. É inevitável: a informação é "vigiada" por quem é manda. Na RTP1 senão directamente pelo Governo, pela administração do canal que agrada ao Governo. E neste âmbito a RTP1 não tem saído muito bem na fotografia.

Partindo desta base não me importaria nada que o canal 1 fosse vendido. Até agradeceria já que é o mais caro e o menos útil deles. Assim, o Estado concentrar-se-ia nos canais mais valiosos e venderia a espelunca que sai cara aos privados.
Nada disto tem sido debatido. Ao Governo só interessa concessionar vs. vender, e não o quê e como concessionar/vender. A oposição só interessa se o Estado é rico ou não, se detém ou não detém, e não se preocupa (principalmente BE e PCP) com a eterna promiscuidade Governo-informação na RTP1 e com a inutilidade da maioria dos seus programas. Depois temos constitucionalistas-videntes que (como sempre) leem na CRP o que não está lá, mal disfarçando o alinhamento ideológico. E ainda os "especialistas em Televisão" que pregam como se a questão não fosse eminentemente politica.

E assim vai: Relvas não fala, Passos encaminha, Cavaco como de costume, Jerónimo grita, administração da RTP não concordava com Governo mas não se demitia (felizmente já se desfez por ela mesma), Governo não a demitia, Balsemão desespera e Borges actua. Um terror nesta novela de Pais.